segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A faturar

Portugal anda mesmo a faturar à força toda. Não é gíria futebolística, nem eufemismo para ganhar dinheiro. É mesmo literal: faturar de passar fatura.
Hoje na feira era a loucura: faturas de um par de meias a 1 euro ou de dois botões a dez cêntimos cada ou de um carrinho de linhas a 25 centimos, ou de 60 cm de fita a 40 cêntimos o metro!!! Os pobres feirantes nem devem ter ganho para os livrinhos das faturas simplificadas, que de simplificadas não têm nada porque continuam a ter 3 ou 4 vias, e um livrinho vai-se num instante à medida que saem os boxers, os chinelos e os rolinhos de elástico. E para faturar a fatura não faltavam os polícias, fiscais e sabe-se lá quem mais, não fosse algum cliente teimoso recusar o raio do papel só para não ter a dor de alma de pensar nas árvores que se desperdiçam.
A faturar a faturar a feira nem parece a feira - vale lá a pena apregoar, fazer descontos ou regatear só para depois faturar! Nem dá para a "atençãozinha" que essa vai-se para a autoridade aduaneira e a imprensa nacional.
É certo que quem pode, foge ao fisco. Mas eu que sou eu e não mando nada, gostava que os senhores dos BPNs e outros do género passassem a fatura do dinheiro dos meus impostos que meteram descaradamente ao bolso e ma mandassem, se faz favor. Sim?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Nua e crua


Nua e crua, (curta e grossa é mais rude e tem ar de pezinho a puxar para a lama), assim é a justiça- ou a falta dela.

Ontem vi na RTP uma reportagem sobre mulheres a quem retiraram os filhos. Tinha pensado não a ver, porque a minha costela sentimentalona ia dar de si e isso não é bom para a estabilidade emocional de ninguém. Mas, sem eu dar conta, fiquei presa à imagem de mãozinhas e pezinhos de criança e cabelos entrançados com missangas coloridas. A costela lá começou a tinir e a piscar (ou qualquer coisa que uma costela possa fazer) porque há mães que entram na maternidade e saem sozinhas e bebés que nunca tiveram um colo de mãe, porque os polícias levaram de uma assentada sete filhos de uma casa, porque as comissões de proteção de menores perseguem as mães... Há pois muito amor de mãe ferido por aí, e muito amor de mãe por entregar também.

Mas depois pensei no que seria do filho da mãe alternadeira (que conscienciosamente durante a gravidez voltou costas ao alterne para passar a arrumar carros e pedir na rua) se tivesse saído da maternidade, para onde? Para a rua, o parque de estacionamento, as traseiras de um bar, uma trouxa numa barraca à espera que a noite terminasse? Chegaria o amor de mãe e a vontade de lhe dar um "lar estável" para corrigir o passado torto e o futuro mais do que incerto?

Aí lembrei-me da velha máxima da justiça: vale mais deixar um criminoso em liberdade do que por um inocente na prisão. (E como neste país se fazem as duas coisas com tanta equidade!!!!) E fiz uma máxima nova que diz que mais vale uma criança institucionalizada por engano do que uma abandonada à miséria física e social.

Pronto, nua e crua, aí está. Essa é a justiça.

PS: Também não quero saber se me criticarem e fizerem um abaixo assinado como o que fizeram para poupar ao abate um cão que matou uma criança. Porque digam o que disserem, nada, NADA vale mais do que a vida digna e segura de uma criança nem que para isso tenham que sofrer mil mães. Porque ser mãe é como a história do Rei Salomão - é saber sofrer e perder para poupar um filho. Nua e crua, também eu, seria a própria justiça.