sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

de deus

Por estes dias tenho pensado em deus, e não pelos melhores motivos. Morreu a mãe de uma adolescente. De cancro. A de outra está também a morrer. Nenhuma das duas tem pai, pelo menos um pai digno desse nome. Nenhuma tem um suporte familiar ou social digno. Nenhuma teve alguma vez uma vida fácil. Mas parece que mais e mais sofrimento se avizinha. É cruel e injusto. Onde está deus? Existe deus? Se existe, não está atento, se está atento, vê muito mal.
É neste dias que é inútil virem falar-me de um deus justo e bom, seja em nome de que religião for.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A importância da luz...


16 de Janeiro de 2012
Passei hoje uma das maiores vergonhas da minha vida, decididamente para figurar no top 10. Chegada a hora do jantar, coloquei a minha sopa a aquecer no microondas e depois duas fatias de pão na torradeira e então puuuuf!, foi-se a luz. (Acrescento que também o aquecedor e o cilindro da água estavam ligados e é possível que o frigorífico também tenha arrancado.)
Inicialmente pensei que fosse geral mas lá fora estava tudo bem iluminado. Peguei então no telemóvel à laia de lanterna e abri o quadro eléctrico. Tudo normal. Ainda assim pus-me a ligar e desligar os disjuntores mas, nada. Desci as escadas até ao sítio onde estão os contadores da água e da luz e confirmava-se: o meu não mexia, nem dava sinais de querer mexer, até porque não vi lá o outro “coiso” com uma alavancazinha que desse para o ligar. Voltei a subir as escadas e liga disjuntor, desliga disjuntor, perante a perspectiva de ficar sem luz e – muito pior! - sem aquecedor nem água quente, liguei ao electricista. O homem nem demorou cinco minutos. Abri-lhe a porta do prédio e depois a porta de casa e, de repente, acendeu-se tudo! Olha agora! Chega o homem e esta treta já ficou boa, vai pensar que sou doida! E saiu-me um espantado “Não acredito!” ao que ele responde “Pode acreditar que fui eu que liguei a luz lá em baixo!”. A boca, que eu ainda não tinha fechado, torceu-se-me de algo entre irritação e “um-buraco-que-me-engula”.
Lá lhe disse que já tinha ido lá abaixo mas não tinha descoberto como ligar a luz. Ele lá muito pacientemente me explicou que se calhar tinha havido uma sobrecarga de uma fase e tinha mandado a luz abaixo, porque o contador era trifásico e a diferença entre trifásico e monofásico e mais umas coisas. Acho que explicava mais para mostrar que sabia do que para eu entender já que, a bem da verdade, eu também não me esforcei muito. Afinal, continuava sem saber a que fase estava ligado o quê e isso não me resolvia o problema. Por fim lá me foi mostrar o truque de magia que fizera regressar a electricidade – era algo tão complicado como carregar num botão do disjuntor que eu não vira antes do lado direito em cima. Chamei um electricista às oito da noite para carregar num mísero botão!
É certo que se eu tivesse visto o disjuntor com o tal botão também não tinha carregado, acho eu, a não ser que tivesse reparado no outro ao lado que tinha a tal alavancazinha cor-de-laranja e brilhantemente concluído que o botão podia ser o substituto actual da alavancazinha. Ainda assim não pude evitar sentir-me tão tão estúpida, loira até à raiz dos cabelos (o que por acaso se verifica), uma verdadeira idiota. O homem pareceu não levar a mal, até porque tem agora uma nova anedota para contar, mas eu nem fiquei em mim. Tãããããão estúpida!
Tive que partilhar o meu infeliz estado alterado com uma amiga que depois me lembrou que o pai dela diz que as mulheres não podem ser electricistas porque demoram nove meses a dar à luz. E isso confortou-me. Não porque eu achasse que se esperasse nove meses a luz voltaria, mas porque conclui que também para que uma mulher dê à luz depois de nove meses, é preciso que um homem “carregue num botão”! Tenho dito.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Maçon, moi?


Entrei na onda, vou falar da maçonaria. Estive na
quinta-feira a ver uma entrevista a dois ex-grão-mestres do GOL. Para já gosto do nome, Grande Oriente Lusitano, é assim uma coisa com cheiro a descobrimentos, sabor a cravinho e canela, aparência etérea do reino de Preste João. Grandeur e saudosismo de bom-gosto acompanhado com chá em serviço da companhia das Índias.
Depois descobri que ser maçon é uma distinção, uma honra, uma coisa espiritual e achei bem, este mundo materialista precisa de mais espírito e valores. Também é ser democrata e defender a liberdade, igualdade e fraternidade. Também é fazer caridade sem publicidade. Também é ser moderno e não excluir as mulheres. Também está tudo escarrapachado na internet e o resto é preconceito e ignorância.
Foi aí que decidi - quero ser maçonne (se o feminino não for assim, devo avisar que só estudei francês 3 anos há - credo! - vinte anos atrás!). Ora, assim sendo eu, querendo ser maçonne, entro numa loja, pago a inscrição, dão-me o recibo, pagam o IVA, assino um contrato e fico maçonne!Não, aí começam os problemas.
1. É uma loja mas aparentemente não vende nada, logo não paga IVA, logo é um estabelecimento comercial que foge ao fisco.
2. Não se chega lá por inscrição, só por convite ou recomendação, o que me parece do mais democrático que há.
3. Não há recibo nem factura nem cartão de sócio porque não se pode divulgar as identidades dos membros.
4. Maçonnes e maçons só se misturam em ocasiões especiais e por convite o que me parece uma tendência muito contemporânea.
5. Respeita todas as liberdades mas como não entra quem quer, é normal que “recrutem” principalmente entre as elites, ou seja, mais igualitário não há, (e eu, já que isto de ser prof é do mais anti-elite que há, estou fora!)
6. São contra a corrupção e o nepotismo mas devem sempre ajudar e patrocinar os projectos de um irmão (o que num tribunal podia ser considerado tráfico de influências, e na sociedade não elitista chamado de factor C)
7. Está tudo na internet menos os rituais que são secretos, os nomes dos membros que são secretos, as reuniões que são secretas, o livro negro que é secreto e mais sei lá quantas coisas perfeitamente transparentes que também são secretas.
8. É tudo baseado nas questões filosóficas e na liberdade total de opinião e credo mas parece que há maçons em tudo quanto é área de poder (com certeza para reflectir filosoficamente e fomentar os valores não necessariamente humanistas)
9. Os maçons têm tido grande influência na democracia e na sociedade (pelo que se vê, estamos bem arranjados)
10. Tudo muito claro e nitidamente justificado pela tradição e as circunstâncias históricas da fundação das lojas maçónicas.

Ora bolas! Primeiro, não posso ser maçonne e segundo não quero! Os dois senhores ex-grão mestres falaram falaram falaram e não disseram nada, deixaram mais dúvidas que explicações o que contribui imenso para acabar com o clima de suspeição. É o que dá lidar com as elites. Nunca vão entender que para os tugas basta falar em associação secreta, rituais secretos e membros secretos é o mesmo que dizer que só podem ter muitos podres para esconder. Os tugas também percebem bem o que é isso de convidar membros e ajudar os irmãos já que é assim que funciona qualquer aldeia deste país numa perspectiva muito filosófica de que uma mão lava a outra. Os tugas lá a muito custo acabam por conseguir perceber que bem vistas as coisas, década após década, os cordelinhos são sempre mexidos por gente com sobrenomes muito semelhantes e combinados e as elites só são elites porque se preservam fechando-se em torno de si próprias e estabelecendo critérios de selecção que, naturalmente, excluem os outros.
Agora, surpresa!, tenho a informar que há muitos tugas que, sem pertencerem à elites e sem convite ou filosofia, conseguem ser maçons! Mas esses são os que há décadas fogem do Portugal governado pelas elites políticas sociais e económicas, emigram para França e tornam-se logo maçons numa obra qualquer.
E já que hoje é sexta-feira treze que, ao contrário de alguns disparates que ouvi hoje, tem origem no ataque em massa aos templários em França – curiosamente uma ordem de elite e cheia de rituais secretos – e a prisão do seu grão-mestre - onde é que eu já ouvi isto? - pergunto-me quanto de tudo isto não tem por trás uma guerrinha política ou económica em que interessa arranjar um bode expiatório qualquer, ou um candidato a irmão ressabiado pela recusa, ou algum interesse secreto daqueles que nem podemos imaginar ou imaginamos demais.
Vendo bem, a França está metida nisto tudo… e hoje caiu nos ratings. Sim, porque isto anda tudo ligado, como dizia o meu afilhado quando tinha que estudar história! Cá p’ra mim, o Sarkozi também é maçon e está a ser afectado pelas ondas de choque do escândalo das relações secretas entre os serviços secretos e uma loja maçónica secreta que deixaram de ser segredo em Portugal que tem uma vasta população de maçons em França!
Concluindo, uma amiga minha diz que a palavra maçon lhe lembra sempre massa, algo entre tagliatelle e farfale mas tudo feito da mesma massa. A meu ver, mais do que uma massada, é assim um prato gourmet com um nomezinho francês que podia servir o paladar de qualquer um mas que, devido ao cozinheiro de elite e aos ingredientes secretos, não está ao alcance de qualquer um a não ser que alguém convide e, naturalmente, pague a conta.
Fica à consciência de cada um...