terça-feira, 11 de outubro de 2011

do amor e da distância


Amo tanto o meu país que só me apetece ir-me embora, assim como temos o impulso de nos afastarmos das pessoas que amamos para não as vermos sofrer.
De cada vez que me vejo ao volante a percorrer este país (tanta, tanta, tanta estrada) encontro um recanto, uma paisagem, um monte, um vale, um por-do-sol magnífico e inesquecível como o da passada sexta feira. De cada vez que passo por uma praia, uma floresta, um rio,vejo algo de novo, puro e belo. De cada vez que viajo, volto e adoro o sol, a luz, o cheiro, tudo o que há de natureza neste país.
No entanto, neste momento, quero deixá-lo, porque já não consigo amar-lhe a decadência, a corrupção, a lama, a miséria, as vistas curtas, o bota-abaixo, a falta de dignidade e orgulho. Este país é um fado desgraçadinho de faca-e-alguidar em mil episódios, como as novelas que não suporto ver na televisão. Este país é um fresco coberto de graffity sem gosto. É um mendigo perfumado e de chapéu de coco com uma mala de marca (até os mendigos fantasiam por-se a andar). É um doctor Jeckyl e um Mr Hyde, é o Dorian Grey e o seu retrato ao mesmo tempo. Este país é "uma choldra", como diria o meu amigo Eça.
Assim, quanto mais amo a beleza desta terra, mais quero sair daqui, assim como que mantém inalterada a foto de alguém que amou há muitos anos e nunca mais viu. De longe, podia amar incondicionalmente este país, de perto, não.